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25 de Setembro de 2021

Sangue de polícia - por Ataíde Alves

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Quem tem sangue de polícia age, muitas vezes, como o escorpião que atravessa o rio naquela conhecida fábula: coloca a própria natureza antes do instinto de autopreservação. Assim é o policial que, mesmo na folga (quando geralmente está sozinho), intervém numa ocorrência na qual, até então, era um simples espectador. E ocorrência policial, qualquer uma delas, é sempre algo cujo começo não permite conjecturas sobre o fim.


O delegado Marcelo Hercos, por exemplo, estava, no horário de folga, na fila de uma loja de conveniência em um posto de combustíveis quando notou que o homem à sua frente tentou passar no caixa uma nota falsa de 200 reais. O amigo e colega de profissão poderia muito bem fingir não ter visto aquilo e voltar para casa em segurança. Também poderia ligar dissimuladamente para a emergência e arriscar perder de vista o infrator. Poderia. Mas aconteceu de o sangue de polícia falar mais alto. Então resolveu agir mesmo estando só. Não discuto a decisão de Marcelo porque muita gente por aí já debateu tal ponto. Prefiro enaltecer a coragem dele.


O marginal, infelizmente, estava com dois comparsas, e provavelmente Marcelo só percebeu isso d-epois que já estava enredado na situação. O preço que pagou foi elevado demais: uma temporada na UTI, sem previsão de alta. Rogo a Deus para que se recupere o quanto antes. Os últimos boletins médicos trouxeram esperança.


O autor dos disparos se entregou hoje, como Sergipe inteiro já sabe. O advogado dele alegou que o cliente nunca se envolveu em ilicitudes e que o coitado atirou no delegado porque pensou que se tratava de um roubo. Versão mais falsa do que as notas de 200 reais que o trio de bandidos repassava às vítimas. Mentiras deslavadas que, não resistindo a uma mera consulta de antecedentes criminais nem às imagens das câmeras do posto de gasolina, só para ficar nesses elementos de informação do inquérito, ofendem a mais obtusa das inteligências. Para que tanta mentira se todos nós sabemos que, lá no presídio, onde desfrutará de mais uma estada à custa das pessoas de bem, o bandido dirá a verdade aos seus colegas de pavilhão?


Sim, dirá a verdade. Para se sentir importante. Para fugir da constatação de que é um inútil que desperdiça a vida prejudicando os outros. Fará questão de anunciar, em tom de escárnio, que suas mãos estão sujas desse sangue que, violentamente derramado de quem combate o crime, escorre por um Brasil condenado à inversão de valores.
Sangue de polícia.

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