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22 de Fevereiro de 2016

Presidente da Adepol concede entrevista sobre queda de Mendonça Prado da SSP

Ele falou ao Portal Universo Político, que tem como editor, o jornalista Joedson Teles.

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O delegado Paulo Márcio, que preside a Associação dos Delegados de Polícia Civil de Sergipe (Adepol), externa, nesta entrevista, a sua visão sobre a queda do então secretário de Estado da Segurança Pública de Sergipe, Mendonça Prado, por um ângulo não ventilado até então nem pelo governador Jackson Barreto, nem pelo próprio Mendonça Prado e muito menos pelo senso comum. Todavia, lendo o juízo do delegado Paulo Márcio, nutre-se a sensação de que os fatos são cristalinos dentro da SSP. “A deslealdade ou traição não veio do governador, mas de pessoas a quem ele estendeu a mão. Ele dormiu com o inimigo. Tentou se desvencilhar, encontrar um novo caminho, mas já era tarde”, diz Paulo Márcio. “O fato de Mendonça respeitar a autonomia da Polícia Civil, não permitindo a ingerências de alguns setores que pediam a cabeça de profissionais comprometidos, precipitou sua queda. Alguém certamente haverá de trazer isso à tona em um futuro próximo.” 

 

Como a Adepol avalia a mudança de comando na SSP?

Esta é, salvo engano, a nona mudança no comando da SSP ao longo dos últimos 15 anos. À Exceção do doutor Luiz Mendonça, que deixou a pasta para assumir o cargo de desembargador do Tribunal de Justiça, os demais secretários foram exonerados ou por não estarem atendendo às expectativas do governo, ou por pressão de outros grupos com interesse na SSP, ou por não conseguirem implementar projetos que reduzissem de fato a criminalidade e diminuíssem a sensação de insegurança da população. No caso particular de Mendonça Prado, o motivo alegado para a exoneração foi um suposto desentendimento entre ele e o seu subordinado imediato, o comandante-geral da PM. Honestamente, considero descabido tanto o motivo alegado quanto à postura adotada pelo governador em todo o processo, no mínimo deselegante. Mendonça passou um ano pagando dívidas deixadas pelo antecessor, das quais R$ 2,6 milhões somente em telefonia. Diminuiu em mais de 70% os gastos com diárias e horas extras a fim de custear, com recursos próprios, o curso de formação dos novos agentes e escrivães e reformar algumas delegacias de polícia do interior; conseguiu estabilizar as taxas de homicídios, preparando-se para reduzir em 5% ao ano os homicídios, a partir de 2016.  Outro ponto positivo foi a implantação da Aisp (Área Integrada de Segurança Pública), iniciando uma política de maior integração entre Polícia Militar e Polícia Civil. Após tamanho esforço de gestão, esperava-se que ele tivesse apoio do governador para converter tudo isso em redução da criminalidade a partir desse ano. Em vez disso, foi exonerado precocemente. Não faz sentido.

 

A troca passou a impressão que o erro está em Mendonça Prado e coronel Maurício Iunes? É por aí?

Para a população, restou a ideia de que Mendonça Prado e Maurício Iunes são homens vaidosos e donos de imensos egos, algo incompatível com a tarefa de comandar as políticas de segurança pública. É claro que, não obstante eventuais desavenças entre ambos, esse não foi o real motivo para a troca de comando. Foi, no máximo, um pretexto. O fato de Mendonça respeitar a autonomia da Polícia Civil, não permitindo a ingerências de alguns setores que pediam a cabeça de profissionais comprometidos, precipitou sua queda. Alguém certamente haverá de trazer isso à tona em um futuro próximo.

 

Há quem diga que Mendonça Prado foi, como se diz na gíria política “fritado”. Há sentido neste juízo?

Não acredito em fritura, muito menos por parte do governador. Mendonça e Jackson são aliados políticos e não há sinais de que esta aliança, iniciada em 2014, esteja caminhando para o final. Talvez tenha faltado diálogo, mais apoio, maior entrosamento, mas traição não ocorreu. Eu lamento profundamente o que aconteceu, pois se trata de uma pessoa bem intencionada, que dedicou seu mandato de deputado federal à defesa dos profissionais de segurança pública. E Jackson, conhecedor do caráter e integridade de Mendonça Prado, o tratará com a mesma lealdade com que vem sendo tratado pelo ex-secretário.

 

O governador não explicou o porquê Mendonça Prado não deu certo. Cortou-lhe a cabeça e, paradoxalmente, ‘jogou-lhe confetes’. Na avaliação da Adepol, o que faltou, já que parece ser unanimidade que o ex-secretário estava bem-intencionado?

O erro de Mendonça, se é que se pode falar em erro, foi achar que, vindo de fora, poderia aproveitar num mesmo projeto pessoas com visão de mundo e interesses diametralmente opostos. Esperançoso e bem-intencionado, foi fazendo concessões e mais concessões, espalhou ovos de serpente ao seu redor e foi vítima da peçonha que abunda em certos indivíduos. Em suma, a deslealdade ou traição não vieram do governador, mas de pessoas a quem ele estendeu a mão. Para se tocar um projeto de segurança pública, é preciso ter um grupo coeso, uma equipe afinada, leal, comprometida.  Ele dormiu com o inimigo. Tentou se desvencilhar, encontrar um novo caminho, mas já era tarde.

 

Jackson trouxe para comandar a SSP o delegado João Batista. O que a Adepol espera do novo secretário?

O Dr João Batista tem a seu favor uma experiência de quase duas décadas na Polícia Civil, com passagem pelos mais importantes cargos, e um grupo tanto coeso quanto capacitado. Seu desafio é modernizar a segurança pública e alcançar resultados que nos retirem dessa vergonhosa posição de um dos estados mais violentos do Nordeste. Mas o novo secretário tem plena consciência de que nada do que ele vier a fazer adiantará se não houver, por parte da Secretaria de Justiça, uma reestruturação do sistema penitenciário. A par disso, terá que criar um projeto de segurança voltado para as cidades do interior e as delegacias metropolitanas da Grande Aracaju, bem como otimizar o trabalho da Polícia Militar e fazer com que ela trabalhe efetivamente para a população, sem desvios de qualquer ordem, restabelecendo a autoridade do secretário como gestor principal da segurança pública.

 

Jackson não jogou o chamado tudo ou nada, no momento em que cria um super secretário, ao aceitar que João Batista escale até o comandante da PM, sabendo que neste terreno das polícias, infelizmente, ainda impera a vaidade em alguns policiais?

Muito pelo contrário: ao dar ao novo secretário autonomia para escolher seus auxiliares diretos, como o comandante-geral da PM e o Delegado Geral, o governador resgata a autoridade e o status do secretário de segurança pública. Não pode haver comando duplo nessa área. Existe uma cadeia única de comando e, no topo, está o secretário. O exemplo de Jackson terá que ser seguido pelos seus sucessores.

 

O delegado João Batista era o homem mais próximo do ex-secretário João Eloy. Aliás, aparecia na mídia bem mais que ele falando em nome da SSP. É possível que tenhamos uma gestão bem próxima da gestão Eloy, que deixou muito a desejar?

Acredito que não. Eles têm estilos diferentes, apesar de muito próximos. O Dr. João Batista, por exemplo, é menos concentrador e mais aberto ao diálogo, além de manter uma proximidade maior com a Secretaria Nacional de Segurança Pública, o que facilita a adoção, em Sergipe, de medidas testadas com sucesso em outros locais do Brasil. Talvez essa abertura para o novo seja o diferencial entre as duas gestões. E, no que depender da Adepol, o secretário terá o apoio para implementar as mudanças desejáveis e necessárias.

 

Quando a sociedade grita por segurança, o governador fala em investimentos. A segurança está mesmo contemplada neste terreno ou falta muito? E se está, o que falta para termos mais tranquilidade?

Nossa estrutura sempre foi deficitária. Há dez anos, dependíamos dos prefeitos para abastecer as viaturas. Algumas delegacias funcionavam em casebres alugados. Aliás, em Muribeca isso ainda ocorre, lamentavelmente. Hoje, o maior problema é o baixo efetivo. Mas o governo não dispõe de meios para preencher todas as vagas em aberto. Com um pouco de esforço, conseguiremos este ano a nomeação de 100 agentes 20 escrivães de polícia, que serão lotados nas cidades do interior. É preciso cuidado para que alguns apadrinhados não sejam privilegiados ou desviados de função, em detrimento da sociedade. A Adepol ficará atenta. O serviço público não é refúgio de parasitas.

 

Uma frase virou lugar comum em Sergipe: “o bandido perdeu o medo da polícia”. Como policial, como o senhor avalia isso?

O discurso comum opõe sempre a polícia e os ativistas dos direitos humanos. Não raro, há excessos dos dois lados. Nem a polícia precisa ser truculenta como desejam alguns, nem os policiais devem ser acuados pelos marginais como vem ocorrendo no país inteiro. Defendo a doutrina policial norte-americana, que valoriza o profissional de segurança pública. Um comando policial deve ser cumprido imediatamente pelo cidadão, que tem o dever de colaborar com as forças públicas, e o policial deve ser treinado para abordagens e ações táticas com risco reduzido. Mas toda reação que ultrapasse a mera desobediência deve ser reprimida, tanto com o uso moderado da força quanto com a utilização de armas não-letais. Entretanto, uma agressão injusta a um policial não pode ser tolerada como algo banal. Nesses casos, a vida e a incolumidade física dos agentes da lei devem ser preservadas.

 

Além de delegado, o senhor é ensaísta e faz análises políticas. O que diria do político Mendonça Prado, pós-secretário de Segurança Pública, depois que abandonou João Alves e passou a afirmar que seu líder é Jackson, que já foi muito criticado por ele outrora? 

Eu discordo dessa avaliação.  Não acho que Mendonça tenha abandonado João Alves. A bem da verdade, em 2014 ele tentou levar o ex-governador e atual prefeito de Aracaju para o palanque de Jackson Barreto. Não conseguiu e, para manter-se coerente com sua posição, deixou o grupo, já que desde o início não aceitava apoiar a candidatura do senador Eduardo Amorim (PSC), à qual João acabou aderindo. Hoje é o próprio Eduardo que, não encontrando espaço na chapa de João para um aliado seu, desembarca do projeto liderado pelo prefeito, ensaiando uma candidatura à prefeitura de Aracaju. Eu me arrisco a dizer que Mendonça trocou uma reeleição garantida para apoiar o projeto de Jackson Barreto. Isso lhe trouxe, sob o ponto de vista político, mais prejuízos do que benefícios. Todavia, se a lealdade ainda for moeda em uso na política, Jackson deverá defender um espaço para Mendonça em seu grupo. E, não se enganem, a história política de Mendonça Prado ainda renderá grandes capítulos.

     

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